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Energia produzida pelas ondas testada em Peniche

17 de Janeiro

Está dado mais um passo para que Portugal se mantenha na vanguarda das energias renováveis, com Peniche associada.

Dentro de três meses o mar de Peniche vai ter a funcionar uma plataforma submersa, capaz de produzir energia através do movimento das ondas, com recurso a tecnologia finlandesa.

“Peniche tem boas capacidades de energia das ondas. Tem as condições certas com altos níveis de energia, mas não são demasiado altos que tornem os testes demasiado difíceis”, disse um técnico finlandês, que considera a proximidade da estrutura dos Estaleiros Navais de Peniche (ENP) fundamentais para a assistência ao projeto.

A tecnologia, intitulada “Wave Roller”, em pleno funcionamento terá a capacidade de produzir energia para alimentar 40 habitações e está a ser montada nos ENP, que depois será transportada para o fundo do mar, ao largo da praia da Almagreira.

Os primeiros três módulos de produção de energia, de 100 kW cada, da empresa finlandesa AW-Energy, chegaram a Peniche no navio “EEMS Transporter”, com o comprimento total de 90m.

A sua instalação deverá acontecer durante a primavera, a uma profundidade entre os 15 e os 30 metros, para dar início à fase de ensaios de produção de eletricidade “off shore”, um projeto piloto a nível mundial.

O projeto Wave Roller tem “mais possibilidade de vingar” em relações a outros, “porque está totalmente imerso. As plataformas quando não estão totalmente imersas sofrem ataque de corrosão. Este estando imerso está preparado para isso e está num espaço reservado. O único problema seria as artes de pesca prenderem, mas o espaço será reservado e se alguém for para lá estão a infringir. O conceito de produção de energia é idêntico, uma vez que aproveita o movimento oscilatório das ondas que geram energia. Ou seja, pressuriza o óleo, que ao chegar a uma determinada pressão, faz gerar uma turbina, que por sua vez gera energia e carrega uma bateria, entrando na rede elétrica nacional”, explicou José Miguel, engenheiro mecânico do departamento técnico dos ENP.

“Este sistema é submerso e essa é a grande vantagem em relação a outro que também aqui esteve e foi aqui testado. Este fica totalmente submerso e não cria barreiras à navegação, até porque ficará a uma profundidade de 20 a 30 metros. O outro conceito, da uma serpente marinha, estava ao cimo da água, com sinalização, para se evitar o perigo para as embarcações. Este anterior conceito não teve muito bom resultado pelo que sabemos”, referiu o técnico.

Esta tecnologia será capaz de produzir 300 Kw de energia por hora, o que será suficiente para abastecer um aglomerado com cerca de dois mil habitantes.

Peniche recebe agora para testes, “três módulos, com uma asa, com maiores dimensões do que o anterior projeto que esteve em testes ao largo. O teste correu bem em termos do conceito, mas a nível estrutura não foi muito positivo, porque quebrou e porque ficámos com algumas artes de pesca presas. Agora houve uma evolução da peça. Esta está mais estruturada para suportar as intempéries. Estas peças têm 11,40 metros de largura por 10 metros de altura por cada asa. É mais área e mais potencial. Nesta fase é um modulo com três asas. É um conjunto e a ideia é criar um wave farm submarino com vários módulos destes de três asas, todos colocados nessa zona para criarem energia”, disse José Miguel.

Antes disso todo o processo está a ser construído nas instalações dos ENP, o que representa uma mais valia para a empresa.

“As asas foram construídas por uma técnica de infusão, amiga do ambiente e será ainda melhor em termos estruturais porque tem peças mais resistentes. Eles escolheram-nos porque nós tínhamos esta tecnologia e sabíamos fazer isso bem. Para o ENP, este projeto representa um investimento entre os cinco a seis milhões de euros. É um bom negócio e é para manter, porque pretendemos implementar o apoio a estas energias renováveis, seja elas quais forem”, reforçou o engenheiro.

“Quanto mais pudermos diversificar a nossa actividade com a construção naval e a destes equipamentos, melhor. Porque naturalmente mais nos consolidamos e mais possibilidade temos de enfrentar a situação económica do mundo”, disse Carlos Mota, presidente do conselho de administração dos ENP.

Serão necessários apenas mais dois meses para terminar a montagem da estrutura metálica de total de 280 toneladas de peso, cujo custo ronda os seis milhões de euros e representa para os ENP uma receita de cerca de um milhão e 150 mil euros.

Os ENP têm participado na execução de projectos relacionados com as energias “off shore” e “near shore”, constituindo-se como a incontornável base de apoio logístico para os projectos que se venham a instalar/testar em Portugal.

A versão pré-comercial do Wave Roller é cofinanciada pela Comissão Europeia, através do sétimo programa quadro, num projeto denominado Simple Underwater Renewable Prodution of Electricity. Este projeto conta com a participação de 10 parceiros entre os quais o município de Peniche, os ENP, o Instituto Hidrográfico, a Bosch Rexroth, do Grupo Bosch, e as duas empresas que constituem o consórcio detentor da tecnologia, a finlandesa AW Energy e a portuguesa Eneólica, pertencente ao Grupo Lena. A empresa portuguesa ganhou a licença da concessão off shore para vir a explorar a produção de energia ao largo da praia da Almagreira, no concelho de Peniche, prevendo iniciar em 2013 a fase comercial do projeto. Esta tecnologia foi identificada há quatro anos e a intenção é ter instalado um parque capaz de alimentar mais de 200 habitações.

Os diversos licenciamentos foram obtidos junto de diversas entidades como a Direção Geral de Energia e Geologia, a Direção de Faróis, a Autoridade Marítima, a Administração da Região Hidrográfica do Tejo, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo e o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Para António José Correia, presidente da câmara municipal de Peniche a importância deste projeto no seu concelho é muito grande porque “aproveita um recurso natural que é o mar, aproveita aquilo que são competências que estão instaladas em Peniche como são os ENP e posiciona toda a atividade económica associada. É uma oportunidade muito importante no quadro do desenvolvimento”.

A nível económico, aquilo que os ENP estão a fazer para a Wave Roller, com a ocupação de mão de obra, “é um acréscimo”. Por outro lado serve para “dar um novo impulso aos ENP e fazer ver em termos políticos nacionais, respeitando os estaleiros navais de Viena do Castelo, que existem mais estaleiros navais, com capacidade para produção de lanchas para a Marinha. Chamo a atenção para a capacidade que aqui está instalada de modo a que se aproveite mais e o número de postos de trabalho na ordem dos cem atualmente, possa voltar ao número interessante dos duzentos postos de trabalho diretos mais todo o efeito multiplicador que isso tem”.

António José Correia indicou que “a produção dos ENP é na ordem dos 10 a 12 milhões de euros e cerca de 80 por cento são para exportação”.

in Jornal das Caldas

http://www.jornaldascaldas.com/index.php/2012/01/17/energia-produzida-pelas-ondas-testada-em-peniche/

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